quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Delírios de uma hora tardia

O que se segue provavelmente não fará sentido. Não é suposto.  

Então e se não tivesse de ser assim? Se pudessemos admitir a pouca fiabilidade  dos sentimentos, se deixassemos de pensar no futuro. Só por um pouco. Sinto que estou a redescobrir a amar, e não gosto de como o fazia antes. Por vezes, odeio o telemóvel e a internet. A partilha solitária, a troca de pensamentos. Odeio a poesia e a tradição, odeio o wireless e o modern design. Venha a exaltação do espírito, a dor das emoções! Abram-se as mentes, as mentes e os braços. Derramem-se as lágrimas. O que é vivo é bom, o que é vivo é romãntico. O que já foi vivo é nostálgico. Venha a madeira, venha o papel. 
Estou cansado desses maricas, mariquinhas, bichonas e toda a espécie de poetas, como diria bolanõ.  O que é afinal a poesia romãntica? Um erro é o que é. Cansado dos borrabotas, dos romancistas, assassinos, comodistas. Uma praga é o que são.
Corremos e lutámos. Tu na tua eterna forma de ser, eu na minha constante tentativa de compreender. Foi uma história suja, cheia de sangue e suor. Foi uma que avançou sem cor, que regrediu com alguma emoção. Foi o tu estares ao virar da esquina e eu agarrado ao soalho de madeira, á carta que ainda está para chegar. Habituei-me a ver-te como tu me vias a mim, com a bagagem, velha, desgastada e coberta de orvalho, atrás. Depois a bagagem rebelou-se, fez-se uma grande confusão, misturaram-se as cores, rasgaram-se as roupas. Mas no fundo voltou tudo ao mesmo não foi?
Depois veio a dança, nada graciosa, rebelde e apagada, da perfeita banalidade. Eu olhava para ti que nem sereia, dançando e chamando um outro marinheiro (ainda que sem querer). E a minha lanterna apagava-se, e nunca realmente encontravas o caminho de volta até mim. Fui ficando no meu cais. Desfeito de saudades chamei por ti, e voltas-te. Por um breve momento olhei para ti, quão bela forma! e fui feliz. Mas viras-te o rosto e vi as cicatrizes. Chorei, caído sobre a madeira, engravada com promessas de outros tempos. Tu subis-te o cais choras-te a meu lado. Por alguns momentos, a total aunsência da lógica, da razão, das pessoas, do mundo á volta. O imperdoável. 
Mas não o é pois não? Não, não creio que seja. De novo nos erguemos. Sei que desaparecerás de novo nessa noite, mas por breves momentos e sem nunca perder a minha luz, agora sei que voltarás sempre. Amas-me não é? Sinto-me mais confiante agora. Febril, exausto, mas mais confiante.
É tempo de mudar de vez, de crescer. De desaprender. Terás de mudar comigo, ou desta sou eu quem terá de partir por uns tempos. O imperdoável que já não o é. 
Amo-te, neste delírio mas também de verdade. Amo-te porque amar é viver, e viver é incondicional. Quando acaba, então não há volta a dar.
No fundo quero sentir mais, pensar menos.  

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