terça-feira, 2 de agosto de 2011

Educação em Portugal (um texto escrito nos tempos de escola)

Devo dizer que o ensino em Portugal,na minha opinião, até está acima da falência ideológica em que o resto do país (e o mundo já agora) se encontra, mas ainda assim há alguns aspectos que simplesmente não me conti em comentar.
Em primeiro lugar, as notas hoje em dia são negociadas, a considerar na avaliação entram factores como a pontualidade e a assíduidade. Embora eu veja o propósito disto, é absolutamente ridiculo. Se o aluno não é pontual, o professor se considerar necessário, não o deixa entrar na sala de aula. Com o novo estatuto do aluno, que resolve a questão de excesso de faltas injustificadas, a assíduidade nem deveria ser factor de avaliação.  Depois temos o modelo de troca directa. A partir do momento em que todas as disciplinas valem o mesmo na média do secundário, estamos a afirmar que as lacunas em biologia podem ser compensadas por educação física ou incapacidade de interpretar um texto pode ser compensada com os relatórios bonitos e absolutamente desnecessários de uma disciplina que não tem motivo de existir: área de projecto. Isto fez da escola um mercado onde o interesse por aprender é minimo e o objectivo de conseguir a desejada média para a universidade (independentemente de se ter os conhecimentos necessário) reina supremo.
O valor cultural impermutável de uma disciplina esteve perto de desaparecer, e com isso a divisão entre as disciplinas essenciais e as facultativas. Não deveria Educação física valer na média metade do que vale matemática ou quimica?
O real problema é a questão dos professores. Já de si, a vida de professor não é fácil. Há ainda, e desculpem o termo, “bestas”, que olham com desprezo para os professores. Acham que o seu trabalho é fácil, e a sua função secundária.  Estes adultos, passam essa opinião aos filhos. As crianças,  com memórias implantadas pelos pais de algum docente da geração “da régua de madeira têm um enorme desrespeito pelos professores, e passam o ano em competição constante pelo estatuto “cool” que pretendem encontrar dentro da turma, facilmente atingido ao rebelar-se contra um professor. Eu próprio já fui assim.
Então fica a questão, como conseguirá um docente aguentar anos sem pensar em fugir? Como poderá levar um bando de selvagens sem interesse na aprendizagem, mal educados e habituados ao entretenimento digital a interessarem-se pelo empirismo de Hume? Ninguém fora do recinto escolar tem uma noção real do que se passa na sala de aula, do combate diário contra a insolência (a qual por vezes eu também tive). Como se não bastasse, o professor tem de suportar que lhe sejam apontadas responsabilidades por falta de educação ou qualquer tipo de agressão verbal aos alunos.  Atacar a dignidade do professor e depois negar tudo na presença dos pais é desporto bem acolhido entre os alunos. Quando algum político ou administrador escolar diz que a culpa é do professor, que o aluno não se interessa e se sente aborrecido e que o professor deveria dar aulas mais interactivas e com videos bonitinhos sei que chegámos a um ponto em que a educação no país não é a melhor. Depois temos pais que não educam os filhos, e como cereja no topo do bolo, um governo que acha que os professores devem ser avaliados. O que fariam sentido, não fosse a má escolha do método de avaliação. Daqui a alguns anos poem os alunos a avaliar os docentes. Adoraria se alguém encontrasse a resposta para o desinteresse generalizado dos alunos e os metesse a curtir “Memorial do Convento” de Saramago ou “Fausto” de Goethe.
A parte que mais me deixa ultrajado é a forma como os ministros da culura e da educação lidam com a situação, retirando os meios disciplinares. Castigos como as expulsões da sala de aula ou as suspensões da escola encontram-se minados de tanta burocracia que os professores preferem prescindir desse direito. Temos também o caso da recente pressão sobre os professores para que passem os alunos, para que lhes tirem as negativas. Os alunos sabem-no, e ainda aproveitam a situação.
Para que esta situação mude (nem vale a pena referir situaçoes como os exames do décimo primeiro ano em vez de exames com matéria do décimo e posteriormente exames com matéria do 11) a iniciativa tem de vir dos alunos, que dos ministérios não vale a pena esperar.

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