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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ricardo Araújo Pereira- A política morreu

Este post, que foi  "roubado"  do blog Entre as Brumas da Memória, pareceu-me ter relevância não por swer uma opinião referente á política em portugal (desculpem mas este país dificilmente merece letra maiúscula), mas por vir de um humorista, que mostra-se também um homem com uma noção, aqui apresentada de forma ligeiramente cómica, do que são as políticas portuguesas.


No passado dia 29/12/2011, Ricardo Araújo Pereira fez parte do terceiro painel do ciclo «Desconferências», subordinado ao tema «O Fim da Crise», no Teatro S. Luiz, em Lisboa. Texto da sua intervenção (ou parte dele).


                                                        
A política morreu porquê?
                                                                                         Foto da autoria de Miguel A. Lopes

Várias hipóteses:






1. A primeira é a de que morreu porque deixou de ser necessária. O sonho dos nossos antepassados cumpriu-se. Os portugueses vivem hoje num país nórdico: pagamos impostos como no Norte da Europa e temos a qualidade de vida do Norte de África.      

Somos um País onde nem Américo Amorim se acha rico. E porquê? Porque somos dez milhões de milionários. Temos a vida que os milionários têm. Cada um de nós tem um banco e uma ilha, é certo que é o mesmo banco e a mesma ilha, que é o BPN e a Madeira, mas todos os contribuintes são proprietários de um bocadinho.


2. A outra hipótese é: não há política porque só há economia. E enfim, a teoria medieval concebia apenas duas formas de governo: na primeira, o fluxo do poder era ascendente. O poder emanava do povo e o povo delegava nos seus representantes. Na outra forma de governo, o poder fazia o percurso inverso: emanava do príncipe e o príncipe delegava nas outras figuras do Estado. O nosso modelo é um híbrido, no sentido em que do povo emana o poder para eleger os representantes na figura de pessoas como Miguel Relvas e o seu vice-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. E há depois o príncipe, que é a troika, do qual também emana poder. E a troika delegou o poder nas mesmas pessoas. Portanto, há um engarrafamento de poder nesta gente e, como é evidente, o poder que vem de cima é mais forte do que aquele que nós mandámos para lá e é isso. O poder deles tem mais força. E o nosso... voltou para trás.


Há problemas no facto de a política ter morrido:


1. O primeiro é: a política percebe-se. Já a economia é muito mais difícil de compreender. Eles simplificam, isso é verdade. Por exemplo, primeiro os mercados começaram a dizer que nós éramos PIGS: Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha. PIGS, porcos! Depois disseram: Portugal é lixo. É uma metáfora muito repetitiva, mas é clara. Facilita a compreensão. Reparem, eu não sei ao certo o que é o "subprime", nem o que são "hedge funds", mas quando uma pessoa me diz: "tu és lixo", eu percebo do que está a falar. Eu sei exactamente. Claro que é triste esta liberdade vocabular não ser permitida a quem está em baixo: a gente vê uma manchete a dizer: "mercados consideram que Portugal é lixo", mas é impensável, na página seguinte, ter: "Portugal vai tentar renegociar a dívida com os chulos". Isso não nos é permitido. Eles têm o capital financeiro e o capital semântico, tudo o que é capital, açambarcam, isto torna a vida difícil.



Mas também há vantagens no facto da política ter morrido:


1. Saiu agora um estudo que diz: "Portugal é uma democracia com falhas". Em primeiro lugar, é importante elogiar um grupo de cientistas políticos que é tão eficaz que consegue olhar para Portugal e ver uma democracia com algumas falhas, e não uma falha com alguma democracia. É inquietante sermos uma democracia com falhas porque, até agora, éramos uma democracia sem falhas. Nós éramos felizes e não sabíamos.


2. Depois, levanta-se outra questão, que é saber se se pode dizer democracia com falhas. Eu estava convencido que a democracia ou é ou não é, no sentido em que também não se pode dizer "ele é ligeiramente pedófilo, ou ele estava mais ou menos morto". Ou está morto ou não está! O facto de sermos uma democracia com falhas põe outro problema mais inquietante: a partir de quando é que uma democracia com falhas passa a ser uma ditadura com qualidades?


3. Outras vantagens: assim que Passos Coelho foi eleito, nós deparámo-nos com um problema interessante: Passos Coelho nunca fez nada na vida a não ser política, JSD, por aí fora. O homem licenciou-se com 37 anos, esteve ocupado a tratar de coisas políticas. No entanto, não tem experiência política nenhuma, o que é difícil para um homem que só fez política na vida. Lá está, ele teve empregos, mas só em empresas administradas pelo Ângelo Correia. O primeiro emprego que teve que não foi arranjado pelo Ângelo Correio, foi este, que nós lhe arranjámos. Passos Coelho acaba por ser uma inspiração para todos os desempregados. É possível, sem grande currículo, com alguma sorte, arranjar um emprego, desde que, lá está, o outro candidato seja... o Sócrates. Para quem tem pouca experiência, governar com a troika é como andar de bicicleta com rodinhas e, portanto, tem esse lado vantajoso.


4. Paradoxalmente, o nosso voto tornou-se mais importante. Antigamente votávamos nas eleições nacionais portuguesas, hoje votamos nas regionais alemãs.


5. E é excelente por questões de respeito. Por causa da senhora Merkel. E digo senhora Merkel com propriedade. Não dizemos o senhor Sarkozy ou o senhor Obama. Nunca. Mas senhora Merkel dizemos. E temos em português aquela expressão, quando nos referimos ao passado: "o tempo da outra senhora". Este é o tempo desta senhora. Saiu uma senhora e entrou outra senhora.


Queria acabar dizendo que há esperança para nós. Porque a política parece ter morrido, mas ainda há réstias de política. Vou dar dois casos:


1. O assassinato político voltou e isso significa que há política. Em 1908 mataram D. Carlos. Em 2011 foi abatido a tiro, também por razões políticas, o pórtico da A22. Há qualquer coisa no início dos séculos que excita o gatilho dos conspiradores. E alguém leva um tiro. Enfim, podiam ter morto o rei, mas entre D. Duarte e o pórtico, os atiradores optaram, e bem a meu ver, pelo que politicamente era mais relevante. E deram uma chumbada na portagem.


2. A segunda razão pela qual devemos ter esperança é este incentivo à emigração constante, que é de facto uma medida política. Geralmente, o programa xenófobo, que é vasto e rico, consubstancia-se na frase "vai para a tua terra", dita aos imigrantes. O nosso Governo tem este programa ligeiramente diferente que é: "sai da tua terra!", dito aos nativos. Fica difícil saber para quem é esta terra afinal. Eu quero sugerir o Brasil como um destino interessante para nós. O Brasil é uma terra de oportunidades e possibilidades de riqueza, como demonstra o caso inspirador do Duarte Lima.




segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Barragem do Tua

"O relatório da Unesco sobre o projecto de construção da barragem do Tua, no Aventar. Pronto há seis meses, até agora nenhum jornal o tinha publicado (que surpresa) e tanto o ministério do Ambiente como a secretaria de Estado da Cultura se mantêm silenciosos sobre os pormenores do mesmo. A história de uma barragem que vai produzir apenas 0.6% da energia nacional destruindo irreversivelmente a paisagem envolvente a histórica Linha do Tua, classificada como Património Mundial pela Unesco. Para além de incontáveis hectares de terra para a produção de vinho do Porto. Tudo para que uma empresa privada (neste momento, a 100%), a EDP, possa ter um lucro de desasseis mil milhões de euros e os seus gestores recebam os prometidos bónus. Um caso exemplar do modo como funciona a rede de interesses económicos das empresas privadas e da sua relação com os partidos do arco do poder, PSD, PS e CDS. O problema não é haver excesso de Estado, como é evidente; é o Estado funcionar como canal de financiamento de projectos privados duvidosos que prejudicam os contribuintes e enchem os bolsos dos accionistas das empresas que deles beneficiam, assim como os dos gestores, quase sempre antigos governantes ou políticos destes três partidos."

Autor:  Sérgio Lavos
 

O relatório  da unesco pode ser lido aqui: http://aventar.eu/2011/12/30/barragem-do-tua-o-relatorio-do-icomos-unesco-que-o-governo-tentou-esconder/ 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Urnas e sindicatos

Ao longo deste blogue tentarei manter-me longe de assuntos políticos, uma vez que já existe uma boa variedade de blogues de qualidade a tratar destes temas,e o meu blog pretende ser de carácter mais pessoal, no entanto, tenho de recomendar a leitura de dois post de um blog de muito boa qualidade, Caldeirada de neutrões. Os posts referem-se ao papel dos sindicatos e ao valor e ética do protesto. Anotações também para o que deveria ser a transparência da campanha política.



http://caldeiradadeneutroes.blogspot.com/
http://caldeiradadeneutroes.blogspot.com/2007/02/o-papel-reaccionrio-dos-sindicatos.html

Cito ainda, do blog referido, um post de 31/12/2008:

"O ano que passou trouxe, pelo menos no mundo ocidental, a necessidade de mudança (que o candidato Obama tão bem soube aproveitar). Em Portugal essa necessidade de mudança agudizou-se ao nível político pela constatação, mais uma vez, de que a democracia só por si não resolve problemas. A constatação da dificuldade de implementação de mudanças (chamem-se reformas ou outra coisa qualquer) gera uma sensação de impotência da democracia. Mas em vez de culpar a democracia acho que seria mais acertado que o problema está na falta dela, ou melhor, na falta de espírito democratico por parte da maioria dos grupos de pressão existentes no nosso país. Já aqui falei no papel reaccionário dos sindicatos e esse é apenas um exemplo de como é possível sabotar o desenvolvimento do país em nome de interesses e objectivos de curto prazo. Acho que os sindicatos e demais grupos de pressão têm o direito (e o dever) de criticar, apontar falhas na actuação governativa e apontar soluções para os problemas. Mas o que acaba por suceder na prática é que os grupos de pressão se dedicam a sabotar e bloquear a acção governativa, especialmente aquela que vá no sentido da mudança. A opinião publica, em geral, não parece nada indignada ou preocupada com isso. Estes dois casos são apenas dois sintomas do problema de base da realidade política portuguesa: a falta de cultura e espírito democrático.

Quando se elege um governo, elege-se igualmente (e idealmente) um pacote de medidas proposto previamente por este que está (ou deveria estar) consagrado no programa eleitoral. Se um programa eleitoral é eleito democraticamente (com agravante, no caso actual, de ter sido por maioria absoluta) parece-me profundamente ilegítimo que se sobote e bloqueie a aplicação dessas medidas. Já o mesmo não acho em relação a medidas que não estejam claramente anunciadas ou implícitas no programa eleitoral, uma vez que não gozam da legitimidade concedida nas urnas. Se esta ideia estivesse bem clara na consciência dos grupos de pressão e da população em geral, os programas eleitorais passariam a existir de facto e seriam concerteza muito mais claros e específicos por forma a garantir a acção governativa sem sabotagens interesseiras.

Não defendo nem me parece acertado que esta impossibilidade de oposição ao programa eleitoral sufragado por maioria seja consagrada em lei e mantida coercivamente. Esta "regra" deveria estar enraizada na cultura democrática de todos. É uma questão de legitimidade mais do que legalidade.

Ao escrever esta posta lembrei-me de uma história que me contaram há uns tempos. Um amigo meu recebeu uns amigos suecos que queriam conhecer um pouco do nosso país. Decidiram que , em cada dia, os sítios a visitar seriam decididos por uma pessoa diferente, à vez. E assim aconteceu. A parte interessante seria a de imaginar como é que seria se em vez de suecos fossem portugueses. Mesmo que os turistas lusos fossem excepcionalmente metódicos ao ponto de estabelecer este esquema de organização, ele certamente resultaria em discussões diárias acerca das decisões tomadas, com todos a quererem dar a sua opinião, a tentar que o decisor alterasse as suas opções, a ameaçar boicotar as férias, a amuar, a deixarem de se falar... Para mim este caso ilustra na perfeição que o fracasso não está no sistema democrático (delegar livremente em alguém a acção governativa por consenso/maioria) mas no desrespeito por este sistema (ou, se quisermos ser simpáticos, na falta de consciência da importância do bom funcionamento do sistema democrático) que é tão característico do puro lusitano."

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Educação em Portugal (um texto escrito nos tempos de escola)

Devo dizer que o ensino em Portugal,na minha opinião, até está acima da falência ideológica em que o resto do país (e o mundo já agora) se encontra, mas ainda assim há alguns aspectos que simplesmente não me conti em comentar.
Em primeiro lugar, as notas hoje em dia são negociadas, a considerar na avaliação entram factores como a pontualidade e a assíduidade. Embora eu veja o propósito disto, é absolutamente ridiculo. Se o aluno não é pontual, o professor se considerar necessário, não o deixa entrar na sala de aula. Com o novo estatuto do aluno, que resolve a questão de excesso de faltas injustificadas, a assíduidade nem deveria ser factor de avaliação.  Depois temos o modelo de troca directa. A partir do momento em que todas as disciplinas valem o mesmo na média do secundário, estamos a afirmar que as lacunas em biologia podem ser compensadas por educação física ou incapacidade de interpretar um texto pode ser compensada com os relatórios bonitos e absolutamente desnecessários de uma disciplina que não tem motivo de existir: área de projecto. Isto fez da escola um mercado onde o interesse por aprender é minimo e o objectivo de conseguir a desejada média para a universidade (independentemente de se ter os conhecimentos necessário) reina supremo.
O valor cultural impermutável de uma disciplina esteve perto de desaparecer, e com isso a divisão entre as disciplinas essenciais e as facultativas. Não deveria Educação física valer na média metade do que vale matemática ou quimica?
O real problema é a questão dos professores. Já de si, a vida de professor não é fácil. Há ainda, e desculpem o termo, “bestas”, que olham com desprezo para os professores. Acham que o seu trabalho é fácil, e a sua função secundária.  Estes adultos, passam essa opinião aos filhos. As crianças,  com memórias implantadas pelos pais de algum docente da geração “da régua de madeira têm um enorme desrespeito pelos professores, e passam o ano em competição constante pelo estatuto “cool” que pretendem encontrar dentro da turma, facilmente atingido ao rebelar-se contra um professor. Eu próprio já fui assim.
Então fica a questão, como conseguirá um docente aguentar anos sem pensar em fugir? Como poderá levar um bando de selvagens sem interesse na aprendizagem, mal educados e habituados ao entretenimento digital a interessarem-se pelo empirismo de Hume? Ninguém fora do recinto escolar tem uma noção real do que se passa na sala de aula, do combate diário contra a insolência (a qual por vezes eu também tive). Como se não bastasse, o professor tem de suportar que lhe sejam apontadas responsabilidades por falta de educação ou qualquer tipo de agressão verbal aos alunos.  Atacar a dignidade do professor e depois negar tudo na presença dos pais é desporto bem acolhido entre os alunos. Quando algum político ou administrador escolar diz que a culpa é do professor, que o aluno não se interessa e se sente aborrecido e que o professor deveria dar aulas mais interactivas e com videos bonitinhos sei que chegámos a um ponto em que a educação no país não é a melhor. Depois temos pais que não educam os filhos, e como cereja no topo do bolo, um governo que acha que os professores devem ser avaliados. O que fariam sentido, não fosse a má escolha do método de avaliação. Daqui a alguns anos poem os alunos a avaliar os docentes. Adoraria se alguém encontrasse a resposta para o desinteresse generalizado dos alunos e os metesse a curtir “Memorial do Convento” de Saramago ou “Fausto” de Goethe.
A parte que mais me deixa ultrajado é a forma como os ministros da culura e da educação lidam com a situação, retirando os meios disciplinares. Castigos como as expulsões da sala de aula ou as suspensões da escola encontram-se minados de tanta burocracia que os professores preferem prescindir desse direito. Temos também o caso da recente pressão sobre os professores para que passem os alunos, para que lhes tirem as negativas. Os alunos sabem-no, e ainda aproveitam a situação.
Para que esta situação mude (nem vale a pena referir situaçoes como os exames do décimo primeiro ano em vez de exames com matéria do décimo e posteriormente exames com matéria do 11) a iniciativa tem de vir dos alunos, que dos ministérios não vale a pena esperar.